Ângulos

Quando estou de mau humor, penso no mundo como um amontoado de animais da raça homo sapiens que, por terem essa propriedade chamada consciência, transformaram os espaços e os outros animais de forma que pudessem melhor lhes servir.
Descobriram lugares distantes e inventaram o carro para chegarem até eles e depois tiveram de inventar a publicidade para venderem o carro e os jornais e as revistas para divulgarem a publicidade e o dinheiro para comprarem o jornal que eles mesmos inventaram.
E vejo que essa profusão de prédios nas ruas não é nada mais do que a junção da toca que cada um arrumou para se proteger dos perigos externos, como os animais das floresta - apenas um pouco mais sofisticadas.
Tudo a que a gente dá tando valor é apenas isso: nosso espaço de viver montado para nos dar um pouco de conforto enquanto vivemos e que depois será o espaço de viver das outras gerações.

E me pergunto: se é só por isso, por que tanta ambição, tanta vontade de ser melhor do que o outro, tanto desejo pelo carro do ano ou a bolsa da moda, se em pouco tempo nada disso tem importância para ninguém e a gente nem estará mais aqui?

Parece melancólico, mas às vezes me soa apenas como óbvio.